Ao longo da vida passamos por alguns desequilíbrios que podem afetar nossa estrutura física, mental e social. Quando isto acontece buscamos ajuda especializada para que este desequilíbrio possa ser avaliado e cuidado através de intervenção terapêutica apropriada. Esta busca pode se dar por iniciativa própria ou por encaminhamento (médico, ou de outra ordem).
Existem várias razões pelas quais buscamos ajuda terapêutica. Podemos já ter um diagnóstico prévio, ou não. Podemos ter alguma condição crônica ou ainda ser acometidos por algum acontecimento ou condição aguda que se instala de forma súbita, e que gera rupturas na nossa forma de viver, afetando-nos psiquicamente, emocionalmente e fisicamente.
De forma geral, para que uma pessoa busque ajuda profissional, é preciso ter uma constatação ou insight de que “algo não vai bem”. As disfunções orgânicas, por exemplo, podem ser geradoras de dor, limitações, incômodos e prejuízos nas atividades de vida diária. As dores psíquicas e emocionais interferem no nosso humor, na nossa disposição, e afetam as relações afetivas e sociais. Já os prejuízos cognitivos podem interferir na aprendizagem e performance, seja na escola ou no trabalho, e também afetar a autoestima e as relações. A percepção destes incômodos e limitações, em geral, é o que motiva a busca por diagnósticos, avaliações, orientações e intervenções terapêuticas.
Para o Dr. Mauro Hegenberg, médico psiquiatra e professor de psicoterapia psicanalítica, estes desequilíbrios físicos, psíquicos e relacionais que passamos ao longo da vida podem vir ou não acompanhados de crises. A crise se instalaria quando a pessoa sente que “não se percebe mais como sendo aquele que era”, quando sente que houve uma ruptura de sentido na vida e/ou nas relações. No caso de uma vivência de crise, a busca por ajuda aconteceria quando se percebe que, sozinho, não dará conta desta angústia. Independente da razão pela qual a busca terapêutica se iniciou, é importante que nós, envolvidos com a área da saúde, recebamos o pedido de ajuda com a devida compreensão do que se apresenta.
A identificação da queixa – o motivo pelo qual a ajuda se faz presente – é o primeiro passo para que seja planejada a intervenção que cada caso necessita. Numa entrevista inicial é possível estimar como o problema se desenvolveu ao longo do tempo, quais os prejuízos e disfunções que apresenta, bem como compreender o contexto biopsicossocial no qual o indivíduo está inserido, que provavelmente vem sendo afetado pela queixa relatada.
Durante a exposição da queixa podem ser percebidas as demandas de cada caso, que às vezes podem revelar a necessidade de mais de um tipo de avaliação. Em muitas circunstâncias já há um encaminhamento médico para mais de uma área de atendimento, mas em outras esta indicação pode emergir da própria entrevista inicial. Podemos citar como exemplo uma pessoa que é acometida por uma doença neurológica degenerativa que necessita de avaliação e acompanhamento em várias áreas terapêuticas. Ou então alguém que apresenta dificuldades de aprendizagem, cuja investigação diagnóstica e intervenções pode exigir ampliação em outras áreas complementares. Outro exemplo seria de uma criança diagnosticada dentro do Transtorno do Espectro Autista, que precisaria de estímulo em mais de um campo de desenvolvimento.
A partir da primeira entrevista, portanto, podemos compreender as necessidades de cada pessoa que chega até nós em busca de ajuda. Sabemos que, muitas vezes, esta busca é adiada e pode vir acompanhada de resistências e temores. Para tal, é imprescindível ter uma escuta acolhedora e atenta, de forma a compreender os motivos e as implicações (internas e externas) que dizem respeito a esta procura. Acreditamos que o acolhimento, a identificação e a compreensão de uma queixa inicial são fundamentais para o melhor encaminhamento do caso, para que a avaliação decorrente seja satisfatória, de forma a favorecer sua evolução. Tatiana Thais Martins / Psicóloga da Unidade Clinica da Ame
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